João Lourenço volta ao Eliseu, mas como Chefe de Estado

27 Maio 2018 | Política

João Lourenço volta ao Eliseu, mas como Chefe de Estado

Paris (dos enviados especiais) - João Lourenço regressa na próxima segunda-feira ao Palácio do Eliseu, em Paris (França), onde esteve em Julho de 2017 como ministro da Defesa Nacional, um mês antes das eleições de 23 de Agosto do mesmo ano que o transformaram em Presidente da República de Angola.

Mantém-se a condição do anfitrião Emmanuel Macron, eleito Chefe de Estado francês a 7 de Maio de 2017, mas muda a de seu convidado oficial, agora homólogo. Há um ano não rubricaram acordos. Nesta segunda-feira marca-se nova era: assinatura de acordos, entre os quais nos domínios da defesa, agricultura e formação de quadros. Antes, João Lourenço visita, pela manhã, a sede da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e a Escola Politécnica.

Em 10 de Julho, o Presidente da República francesa aproveitou a oportunidade para felicitar o homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, pelo processo de transição em curso no país e na mesma altura reafirmou o desejo do seu Governo reforçar as relações com Angola.

Enquanto ministro da Defesa Nacional, João Lourenço foi recebido por Macron, no Palácio do Eliseu, sem a presença da imprensa, embora no final da audiência o até então secretário de Estado para as Relações Exteriores, Manuel Augusto, tenha se limitado a sublinhar que a “missão” tinha sido “cumprida”.

Um mês depois, João Lourenço, candidato do MPLA ao cargo de Presidente da República nas eleições de 23 de Agosto, foi confirmado pelo povo e voltou a encontrar-se com Emmanuel Macron em Abidjan (Côte d’Ivoire), a 30 de Novembro de 2017, agora em igualdade circunstancial: ambos presidentes da República, durante a Cimeira União Africana-União Europeia.

Na capital ivoiriense, o Presidente angolano manteve encontros separados com os chefes de Estado da França, Emmanuel Macron, e do Congo, Dennis Sassou Nguesso, e o rei de Marrocos, Mohammed VI, com quem discutiu assuntos de interesse bilateral.

O estadista gaulês completou este mês um ano de governação desde que chegou ao poder, num mandato marcado pela sua firme vontade de proceder a múltiplas reformas a nível interno e conquistar um lugar de líder, a nível internacional.

Por sua vez, João Lourenço elegeu como bandeira de campanha e governação o combate à corrupção e à impunidade, o que tem aumentado os níveis de esperança do povo angolano desde Setembro de 2017.

Espera-se que os dois presidentes da República continuem a seduzir pelo seu dinamismo e a relançar a cooperação em vários domínios entre França e Angola.

O primeiro ano do mandato de Emmanuel Macron foi marcado pelo lançamento de muitas reformas, num país que ele considera estar em plena crise de confiança: implementou reformas internas no Código do Trabalho, na segurança, na luta contra a imigração clandestina ou na Economia, nomeadamente no sistema rodoviário francês.

Enquanto o homólogo francês busca mudança da imagem do país pelo mundo com política reformista, forte, com vocação de líder no concerto das Nações, o Presidente angolano aposta forte na diplomacia económica para tirar da crise em que Angola está mergulhada, derivada da queda do preço do petróleo e combate ao nepotismo.

“Ninguém é suficientemente rico que não possa ser punido, ninguém é pobre demais que não possa ser protegido”, foi um dos avisos mais marcantes que o novo chefe de Estado, de 62 anos, deixou na cerimónia de tomada de posse, a 26 de Setembro de 2017.

João Lourenço tem reiterado a necessidade de “moralização” da sociedade, com um “combate sério” a práticas que “lesam o interesse público”, sinais que despertam a comunidade internacional e abrem novos horizontes para negócios, razão pela qual aposta na reforma no plano externo e tenta incutir outra mentalidade em todos sectores.

Se o convidado de honra se guindou sob o lema “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, o anfitrião adoptou o slogan “France is Back” (A França está de volta) e defende com firmeza os valores democráticos do Ocidente, a luta contra as mudanças climáticas. Defende reforma de algumas políticas europeias.

Como disse em 2017 o agora ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, Angola tem vontade de manter e melhorar a cooperação com as autoridades francesas, pois França “continua a ser potência mundial e pode ser mais-valia para o esforço em curso do Executivo angolano na economia e na melhoria da qualidade de vida da população”.

As autoridades angolanas têm estado a chamar atenção para a necessidade de se ver a crise económica mundial como oportunidade para os países mais desenvolvidos e os que estão em vias disso trabalharem juntos, numa cooperação com ganhos recíprocos. Angola precisa principalmente do saber e da tecnologia francesa.

As relações político-diplomáticas e de cooperação entre os dois países iniciaram a 17 de Fevereiro de 1976, ano em que Paris reconheceu a independência de Angola, culminando com a assinatura, a 26 de Julho de 1982, do Acordo Geral de Cooperação.


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